Entrevista exclusiva

Lucinha Lins fala de A Viagem, fase na Record e retorno à Globo: "Tomara que me chamem novamente"

Atriz opina sobre novelas bíblicas, trabalhos no streaming e influenciadores no audiovisual; em breve, ela encara um importante desafio na carreira


Lucinha Lins
"É impressionante como nesses 31 anos, depois de tantas reprises, A Viagem continua reunindo multidões", diz Lucinha Lins - Foto: Reprodução/Montagem NT
Por Walter Felix

Publicado em 09/06/2025 às 06:00,
atualizado em 09/06/2025 às 10:50

Lucinha Lins voltou a ser chamada de Estela nas ruas. A menção é à personagem da atriz em A Viagem, novela de 1994 que se reafirma como um sucesso atemporal a cada reprise na TV. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, a veterana relembra os bastidores da trama e fala de seu recente retorno à Globo após mais de 20 anos longe da emissora, período em que esteve em trabalhos na Record.

“Levei um susto quando foi noticiado que há 21 anos eu não gravava nada na Globo. Fiquei realmente muito surpresa. Não percebi esse tempo todo”, comenta a atriz. Ela entrou na reta final de Volta por Cima, trama das 19h que terminou em abril. “Foi um momento muito especial, que durou pouco, mas acho que eu consegui fazer muito bem… Tomara que me chamem novamente!”

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Fora da Globo, ela esteve em Esmeralda (2004), no SBT, e em títulos como Chamas da Vida (2008) e Vidas em Jogo (2011), na Record. Também chegou a atuar em histórias bíblicas, que hoje dominam a produção do canal. “É uma emissora que vai muito bem, obrigada”, defende. “É um barato saber que esse tipo de trabalho feito no Brasil está ando em todo lugar do planeta.”

Lucinha Lins fala de A Viagem, fase na Record e retorno à Globo: \"Tomara que me chamem novamente\"

Com a reprise de A Viagem no Vale a Pena Ver de Novo, Lucinha mata as saudades de Cláudio Cavalcanti (1940-2013), que interpretou Alberto, seu par romântico, e celebra a amizade e a parceria com Christiane Torloni (Diná) e Fernanda Rodrigues (Bia). Das gravações do folhetim espírita, ela recorda acontecimentos “inerentes ao que estava escrito no texto”.

No ano que vem, Lucinha poderá ser vista na novela Dona Beja, da Max. A atriz, que já criticou o pouco espaço dado a veteranos no audiovisual, lembra da própria trajetória ao ser questionada sobre a escalação de influenciadores sem formação artística para trabalhos na área. “Sou completamente autodidata, e tive oportunidades raras, muita sorte e gente à minha volta me apoiando.”

“A formação é muito importante. Quando você não tem uma boa base, é mais difícil alcançar metas e as necessidades de uma personagem. Fui fazer esse trabalho depois que eu já estava ‘no trilho do trem’”, conta. “Não tenho nada contra ninguém que tenha alguma oportunidade e possa mostrar e desenvolver o seu talento.”

Aos 72 anos, ela se dedica ao espetáculo Palavra de Mulher, que mistura show e teatro, e se prepara para encenar Torta Capixaba, texto inédito do marido Cláudio Tovar. “Acredito que é muito importante na vida de um ator encarar um monólogo”, diz. “Confesso que estou apavorada com o desafio que eu estou me dando, mas acho da maior importância. Então, me aguardem!”

Leia a entrevista com Lucinha Lins na íntegra

NaTelinha: A Viagem vem fazendo sucesso em mais uma reprise na Globo. ados 31 anos, como avalia a importância deste trabalho para a sua carreira?

Lucinha Lins: É impressionante como nesses 31 anos, depois de tantas reprises, A Viagem continua reunindo multidões. São gerações que assistem e amam essa novela. Esse fenômeno continua, não sei ainda por quanto tempo. É um luxo e uma honra ter feito parte deste trabalho. Voltei a ser chamada de Estela na rua.

NaTelinha: O par que você formou com Cláudio Cavalcanti é um dos mais marcantes da novela. Como era a parceria com o ator e como foi a criação deste casal?

Lucinha Lins: Cláudio é uma daquelas pessoas que faz falta na vida da gente. Lamento profundamente sua partida tão precoce. Estou matando as saudades dele dando umas olhadas de vez em quando na novela, porque volta e meia quero assistir ao capítulo que está ando. Isso acalma o meu coração e a minha saudade!

Era um amigo espetacular, antes de mais nada, e um ator com um olhar, com uma cumplicidade, com uma generosidade… Meu Deus! Era fácil trabalhar com o Cláudio Cavalcanti, porque ele dava de bandeja a cena inteira para você. Como diretor, também, espetacular! Sinto falta dele.

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NaTelinha: Também há cenas muito fortes com Christiane Torloni e Fernanda Rodrigues. Qual foi a sua relação com cada uma das atrizes?

Lucinha Lins: Tem uma coisa engraçada nisso tudo. A Fernandinha na novela se chamava Beatriz e, na vida real, eu tenho uma filha chamada Beatriz. Só que minha filha não se parece nada comigo! Já a Bia da novela, loirinha, de olhos claros, até hoje é obrigada a dizer às pessoas: “Eu não sou filha da Lucinha Lins!” (risos). Ela diz que já até concorda. Quando alguém pergunta se é minha filha, ela responde: “Sou. Desde A Viagem, ela ou a ser minha mãe também!”.

Fernandinha, desde aquele tempo, virou minha filhota do coração, que se transformou numa mulher espetacular, com dois filhos lindos. Brinco que sou a vovó dessas crianças. Somos amigas e estamos sempre nos falando. Sou apaixonada por ela! Nossa relação, a partir daquele momento, ou a ser muito cúmplice e muito gostosa.

E que química maravilhosa aconteceu entre a Estela e a Diná! Volta e meia estou com a Christiane. Falamos dessa novela com muito carinho, cuidado e agradecimento. A Chris é uma pessoa que eu adoro! A Viagem fez acontecer grandes amizades. As duas vão estar para sempre na minha vida.

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NaTelinha: Os bastidores de A Viagem parecem ter sido uma novela à parte, com várias histórias, até sobrenaturais, contadas pelos atores. Há algum episódio especial que você guarde na memória?

Lucinha Lins: São muitos. Realmente aconteciam coisas inerentes ao que estava escrito no texto. Lembro de uma cena de meia página, em que a Estela chegava com uma bandeja na sala e conversava com a Diná enquanto as duas tomavam um chá. Na hora do “gravando”, quando entrei seguindo a marcação, a Christiane saiu de onde estava e sentou no chão. Sentei ao lado dela e fizemos não só o texto determinado como um texto que não estava escrito.

Simplesmente conversamos, dentro da proposta da cena, com palavras que não estavam no roteiro. Isso fluiu naturalmente entre nós duas e, em vez de uma página, isso se transformou em uma página e meia, com começo, meio e fim, absolutamente coerentes.

Em um dado momento, demos a cena como terminada e ficou aquele silêncio. Do switcher, saiu a voz do Wolf Maya: “Ok, meninas, posso cortar?” (risos). Nós não tínhamos noção real do que tinha acontecido, e a cena ficou espetacular! Coisas de A Viagem…

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NaTelinha: Você voltou à Globo após mais de 20 anos na reta final de Volta por Cima. Como foi esse retorno e qual recepção você teve do público?

Lucinha Lins: Levei um susto quando foi noticiado que há 21 anos eu não gravava nada na Globo. Fiquei realmente muito surpresa. Não percebi esse tempo todo.

Foi maravilhosa a receptividade, não só da equipe da Globo, da direção e dos atores. Eu não sabia que as pessoas estavam tão felizes com esse meu retorno. No WhatsApp, no Instagram, os fãs, as pessoas nas ruas, a minha família… Não houve um ser humano que tenha ado por mim que não tenha me abraçado e dito: “Ai, como é bom você estar na telinha novamente!”.

Fiquei muito emocionada com isso, muito honrada. Começando a gravar a novela, não sabia também que eu estava com tanta saudade! Foi um momento muito especial, que durou pouco, mas acho que eu consegui fazer muito bem. Tomara que me chamem novamente!

NaTelinha: Nas últimas décadas, você fez vários trabalhos na Record. Como avalia esse período e a atual produção da emissora, voltada para produções bíblicas?

Lucinha Lins: A Record encontrou um filão, que são as novelas bíblicas, e sabe fazê-las muito bem. Tive o prazer de participar de uma delas, que foi O Rico e Lázaro (2017), que foi excelente, um trabalho maravilhoso, e tive a sorte de fazer outros trabalhos lá dentro que foram muito bons também. A Record me recebeu de braços abertos.

É uma emissora que vai muito bem, obrigada. Nenhuma outra teve essa ideia e essa coragem. A Record acertou nessa ideia e consegue botar no ar novelas bíblicas maravilhosas, que já estão espalhadas pelo mundo. É um barato saber que esse tipo de trabalho feito no Brasil está ando em todo lugar do planeta.

NaTelinha: No ano que vem, você será vista em Dona Beja. O que pode nos contar sobre esse trabalho e sobre o papel na novela?

Lucinha Lins: Faço uma inglesa que é professora das filhas de Dona Beja (Grazi Massafera). Ela vem com as meninas nas férias para conhecer aquela aristocrata maravilhosa, tão generosa com o internato das filhas, e descobre que aquela mulher não é exatamente o que ela esperava encontrar. Tem um lado muito engraçado na minha personagem. Foi uma participação pequena, mas bastante marcante, que eu adorei fazer. Estou contando os dias para que esse trabalho entre no ar.

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NaTelinha: O streaming vem dando os importantes na produção de novelas no Brasil. Como foi sua experiência nesse segmento? Acredita que esse novo mercado pode superar a TV?

Lucinha Lins: O streaming invadiu o mundo. Tem uma coisa maravilhosa nisso: atores fantásticos, premiados, que só apareciam nos longas, estão fazendo parte agora de trabalhos junto às emissoras de televisão e às Netflix da vida. Tem sido maravilhoso encontrar esses atores dentro da nossa casa.

É mais uma aba, uma paleta do leque de trabalho que se abre para todos nós, atores, atrizes e outros profissionais do ramo. Há também uma mistura com a novela, que faz parte da cultura do nosso país. Tem espaço para todo mundo. Sem dúvida, [o streaming] ampliou as possibilidades de trabalho para nós.

NaTelinha: Você já falou em entrevistas sobre a importância de valorizar atores veteranos. Paralelamente a essa discussão, influenciadores têm sido escalados para papéis mesmo sem formação. Qual a sua opinião sobre esse assunto?

Lucinha Lins: Acho que oportunidades existem, e quando a estrela brilha, você precisa estar atento a esse brilho e aproveitar da melhor maneira possível o seu momento. Tive isso na minha vida. Sou completamente autodidata, e tive oportunidades raras, muita sorte e gente à minha volta me apoiando, me dando força e acreditando em mim. Ali, descobri ter um talento que eu desconhecia.

Se esse talento não existisse e eu não tivesse a chance de desenvolvê-lo, eu não teria 50 anos de carreira e estaria ocupando o lugar que ocupo na memória das atrizes deste país. Oportunidades existem, e o talento existe também.

A formação é muito importante. Quando você não tem uma boa base, é mais difícil alcançar metas e as necessidades de uma personagem. Fui fazer esse trabalho depois que eu já estava “no trilho do trem”. E o trem, quando parte, é a todo vapor. Você tem que ser muito esperta e muito dedicada para não descarrilhar ali na frente.

Então, não tenho nada contra ninguém que tenha alguma oportunidade e possa mostrar e desenvolver o seu talento.

NaTelinha: Fale sobre os projetos em que você está envolvida atualmente.

Lucinha Lins: Faço parte de um fenômeno teatral chamado Palavra de Mulher, que está nos palcos há 17 anos [o espetáculo aborda o universo feminino a partir das canções de Chico Buarque]. Estou ao lado de Virgínia Rosa, Tânia Alves, uma banda maravilhosa e a mesma equipe todo esse tempo, mostrando esse trabalho de norte a sul, leste a oeste do país. É emocionante, um privilégio. É um espetáculo atemporal e tem sido sempre muito prazeroso.

Paralelo a isso, me preparo para um grande desafio: um monólogo, escrito especialmente para mim por Cláudio Tovar, meu maridão, que se chama Torta Capixaba. A direção será de João Fonseca. Estamos na fase de captação de recursos.

Acredito que é muito importante na vida de um ator, de uma atriz, encarar um monólogo. Mesmo com a experiência que eu tenho, com os anos na estrada, confesso que estou apavorada com o desafio que eu estou me dando, mas acho da maior importância. Então, me aguardem! Vou encarar esse monólogo e tenho certeza que todo mundo vai adorar!

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