Negro gato

Fabrício Boliveira faz um balanço de Volta por Cima: "Cara de Brasil"

Ator fala de representatividade, da relação com o público e do casal Jão e Madá


Fabrício Boliveira sorrindo em foto posada
Fabrício Boliveira se despede do Jão de Volta por Cima - Reprodução/Instagram
Por Taty Bruzzi

Publicado em 25/04/2025 às 07:30,
atualizado em 25/04/2025 às 09:48

O último capítulo de Volta por Cima vai ao ar sábado (26), como parte das comemorações pelos 60 anos da TV Globo. Escrita por Claudia Souto, a novela conquistou o público com toda sua pluralidade, um dos pontos positivos apontados por Fabrício Boliveira, que interpreta Jão.

"Novas obras, agora, já tem Volta por Cima como um exemplo de como a gente pode trazer essa diversidade pra dentro [audiovisual], e fazer com que se tenha cara de Brasil", disse o ator durante abertura de gravação com a presença do NaTelinha.

Fabrício Boliveira faz um balanço de Volta por Cima: \"Cara de Brasil\"

Protagonista na trama, Fabrício se inspirou nos trabalhadores brasileiros para dar vida ao fiscal de ônibus. "Os trabalhadores em geral... O Jão tem muito esse espírito de um trabalhador, né?", observa.

Durante o bate-papo, o ator falou sobre a relação do seu personagem com a família, o romance com Madá (Jéssica Ellen) e as questões sociais que a autora trouxe para a novela através do protagonista. Confira!

Volta por Cima

"A novela está sendo uma obra de sucesso fora, de repercussão, mas interno também. As respostas que a gente tem recebido do público é sempre de empatia, de reflexão a partir das coisas que a gente propõe dentro da obra. Isso pra mim é o ápice, do que a gente espera quando está em um trabalho. Que ele repercuta no público, mas que as pessoas também reflitam e falem a respeito, e que isso, de algum jeito, entre e consiga trazer novos elementos dentro do social'.

Viação Formosa

Fabrício Boliveira faz um balanço de Volta por Cima: \"Cara de Brasil\"

"A história dentro de uma empresa de ônibus tem trazido uma série de discussões sobre o lugar desse motorista, o lugar desse fiscal, do cobrador que já não existe mais, essa função ou para o motorista. Isso abre discussões sobre a precarização do trabalho hoje. De algum jeito, a gente está conseguindo inserir algumas reflexões para o nosso social", observa

"Também tem o lugar do Jão, do reconhecimento popular, negro, de virtudes brasileiras, de lugares que a gente traz com a gente, mas que ficou cafona, démodê. De você ser empático, olhar para o outro com horizontalidade. De algum jeito, esse personagem aviva dentro da gente sentimentos, relações que a gente tinha como brasileiro".

Fabrício Boliveira

"Se for pensar nas pessoas dentro do subúrbio e a comunidade que eles formam ali dentro, de ajuda, de preocupação com o outro, isso é uma característica nossa, brasileira. A gente está conseguindo ver espelhada na novela e avivando na gente. Enfim, a novela está conseguindo repercutir bem dentro do social", reflete.

Representatividade

"A gente sempre tem fé de quando se faz um trabalho deixar sementes para que isso cresça em outros trabalhos. Eu acho que a presença asiática, indígena e negra dentro dessa novela vai repercutir bastante. Novas obras agora já tem Volta por Cima como um exemplo, de como a gente pode trazer essa diversidade pra dentro e fazer com que se tenha cara de Brasil né? Porque o Brasil é cheio de japoneses, por exemplo", sinaliza o ator.

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"Os chineses que estão chegando... Por que eles não vão ser representados dentro do audiovisual se já tem uma grande quantidade? Os indígenas, que a gente vê pouco dentro das obras ou quando eles estão, são sempre em lugares de estereótipos, não são pessoas urbanas. Existem muitos indígenas urbanos. Que moram próximos da gente e que não são retratados. Eu acho que Volta por Cima impacta o audiovisual e traz essas possibilidades pra frente", acredita Fabrício.

Jão

"Eu tenho minha vivência em subúrbios brasileiros e bastante aqui [Rio], em Madureira. Fui observando esses caras que estão na noite, estão trabalhando. Quem são essas pessoas? Os trabalhadores em geral. O Jão tem muito esse espírito de um trabalhador, né? Quem são essas pessoas trabalhando no ônibus, mas que estão ali trabalhando, servindo, atentas ao outro? Além do Marlon, um amigo meu lá de Madureira, teve um fiscal de ônibus que a gente conheceu no início da novela, um cara que eu fiquei muito ligado nele".

Fabrício Boliveira

"Principalmente, com o jeito dele tratar as outras pessoas. Ele se dizia psicólogo dentro do trabalho porque era a primeira pessoa que recebia esses motoristas. Ele entendia se o motorista estava apto ou não pra trabalhar de acordo com o temperamento dele. Um cara empático, que tá olhando com horizontalidade. Isso, pra mim, foram características que eu trouxe diretamente para o Jão. De um cara que escuta, que para, ouve, olha, tá sempre pensando nele e no outro, mas muito mais no outro. Nessa relação, juntos, do que a gente pode constituir", recorda

Jão e Madá

Fabrício Boliveira faz um balanço de Volta por Cima: \"Cara de Brasil\"

"Tem a ver com a química, sim. São personagens muito bem escritos. A coisa deles começarem meio numa rusguinha, e isso vai virando um amor, vai virando um tesão. A Jéssica [Ellen] é uma ótima atriz, e a gente gosta de jogar dentro da coisa do casal, das minúcias que vamos trazendo dentro de coisas que sabemos da história, e a gente traz para aquela cena. A gente improvisa muito e isso foi afinando a gente mais, sabe? Essa abertura que a gente tem um para o outro, no jogo do outro, respeito, iração, prazer de estar junto. Eu acho que o público sente isso", opina.

Casal protagonista

"É muito interessante pensar que pra um personagem feito por um homem negro, e de dread, a questão hoje é sobre os afetos do Jão. Eu acho isso muito novo, porque, geralmente, pra pessoas negras tava um lugar de sobrevivência, tendo que correr, fugir ou atacar para sobreviver. Hoje em dia está se falando sobre amor. Sobre essas subjetividades: 'Com quem você vai ficar?' Isso é uma beleza da gente pensar. A Claudia [Souto] fez disso uma grande questão e pegou o povo brasileiro", vibra.

"Eu não parava de ouvir na rua 'Volta pra Madá!'. O tempo inteiro! Então, você pensar que ela conseguiu discutir afeto, aprofundar lugares de afeto. A grande questão da novela durante um tempo era afeto. E isso é tão bonito da gente pensar! O público quer ver isso, está necessitado de ver. O público vive isso também em suas vidas. Essas questões! E quer se ver também nessas questões".

Fabrício Boliveira

Cacá

Fabrício Boliveira faz um balanço de Volta por Cima: \"Cara de Brasil\"

"A Carla não sabia, mas ela desconfiava. Por isso que ela não queria fazer o exame de DNA. Se você propõe para alguma mulher que ela faça o exame de DNA, até se ela se sentir ofendida, ela vai fazer, porque é direito dessa pessoa também ter certeza sobre essa relação. Eu acho que ela desconfiava que possivelmente podia não ser do Jão, mas preferia manter aquela relação segura pra ela", acredita.

Jão e Cacá

"O Jão teve um comportamento muito digno. A gente fala tanto de mulheres solteiras, de mães solos, de mulheres que assumem os seus filhos e ficam solteiras porque não têm esse pai do lado, que ajude. Então, ele entendeu que se o filho era dele ia assumir. Claro que faltou um pouco de malícia. Ele pede para fazer o exame de DNA, mas faltou malícia na insistência", fala.

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"É chato pra um homem desconfiar de uma mulher quando diz que está grávida dele. A novela traz esses pensamentos também: 'E aí, como é esse comportamento? É machismo dele? Se ele insiste um pouco mais no exame de DNA, ele está desconfiando dela ou essa segurança é necessária para alguém que não tem mais uma relação direta com a pessoa?"

Fabrício Boliveira

Jão e Edson

Fabrício Boliveira faz um balanço de Volta por Cima: \"Cara de Brasil\"

"Como muda esse afeto... De um cara que era o patrão e ele descobre que é o pai dele. Tem uma rusga e como isso vai se modificando... Como o Edson se modificou na história para poder ter esse filho de volta. Como se modificaram para virar a chave, se tornarem essa família de verdade, se aceitarem agora frente a tudo que aconteceu no ado, todos os traumas", declara.

Família

"Como que a gente forma essa família brasileira, né? Fala [novela] muito isso, de questões que a gente teve nos últimos anos, brigas políticas, paternidade dentro desse país, como é que a gente consegue se unir agora? E formar essa família hoje, no presente, e com toda as adversidades que tem e diversidades que sentem, todas as diferenças que tem. Como é que a gente aceita um filho hoje que se assume homossexual, por exemplo? E faz, porque o importante é estar junto. É ter esse afeto! Eu adoro estar com eles em cena [Ailton Graça e Valdineia Soriano], pegar na mão e falar: 'Caramba, a gente conseguiu em uma novela construir uma família. Que já era, ele e a mãe, já era uma família, mas é essa família que o Jão desejava'. Acho bonito pensar nisso!"

Ação social

"Eu fiz uma postagem e mandei pra Claudia [Souto] que falava dessa diferença social em algumas empresas, e um estudo feito por um amigo meu, Gênesis, dentro dos empregos federais, a diferença que tinha salarial a partir das raças. A gente pensou que pra além das cotas, que está resolvendo esse processo de inclusão, mas ainda falta essa equidade salarial. Inclusive, ou uma matéria no Fantástico falando sobre isso também", comemora Fabrício.

"Então, é um assunto que está super em voga no momento e eu acho que é super importante a gente pensar nisso à partir desse processo de inclusão que a gente falou. Sim, entram pessoas asiáticas agora. Sim, entram indígenas. Mas elas vão ter salários menores por que ainda não estavam inseridas no mercado, estão ocupando a mesma função e, muitas vezes, a mesma experiência? Então, como é que a gente faz com que isso fique equiparado?"

Fabrício Boliveira

Cena

Fabrício Boliveira faz um balanço de Volta por Cima: \"Cara de Brasil\"

"A cena que o Jão saía de uma conversa com uma consultora de RH, que falou sobre essas questões de diferença salarial, ele vai pra rua e começa a enxergar nas pessoas o estímulo para continuar, para ter novas ideias através do trabalhador brasileiro, é muito potente. Foi uma cena linda e eu fiquei super emocionado... Até o espírito que o Jão tinha foi uma decisão minha e da Larissa, uma diretora negra", revela. 

"Aquela cena talvez tenha tido essa potência da gente se olhar no olho, olhar as pessoas negras no olho, porque veio de um ator negro e de uma diretora negra pensando nisso. A gente ali no set entendeu que não era raiva que o Jão sentia quando saía, ele precisava entrar como Jesus Cristo num espaço de pensamento dentro do deserto. Ali ele ia entender quais novos os tomar",

Fabrício Boliveira

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"Essa cena falou muito disso, da sociedade estar junto com ele. Ele olha as pessoas, o estímulo vem através dessa relação pessoal. Eu acho que essa cena tocou em vários pontos importantes pra gente hoje. De como se comportar, lidar com o outro e ter o outro também dentro das questões que são coletivas", ressalta o ator.

Protagonismo

"Que a gente faça com que isso fique equiparado, que a gente não precise contar nos dedos quantos protagonistas negros tiveram, e que isso não seja também o grande chamariz da novela, que isso só esteja, porque isso reflete a nossa sociedade. A gente já entende pelo ibope da novela, pelo sucesso, que as pessoas querem se ver nesses lugares também. Querem discutir essas outras minúcias. Da raça negra, da raça indígena, da raça asiática...", lista.

"Que a gente esteja nesse fluxo como um rio que vai seguindo, trazendo bons números e positividade nas coisas que a gente fala, discute pra sociedade. A gente já entendeu, como audiovisual, que pontos são esses. A presença negra é um ponto super importante hoje para o bom desenvolvimento de uma obra, para o sucesso de uma obra, pra entender quantas pessoas negras estão trabalhando dentro dela, na frente e atrás também dessas obras", pontua.

Repercussão

Fabrício Boliveira faz um balanço de Volta por Cima: \"Cara de Brasil\"

"Eu tô adorando! A minha ideia de voltar a fazer novela é que eu queria ter a relação direta com o povo. Eu queria falar com o meu povo brasileiro. Propor coisas, ouvir coisas, estudar coisas, dialogar horizontalmente, e tá sendo um sucesso absoluto, porque as pessoas me trazem as questões que o Jão propõe", ite.

"Eu ouvi muito nas ruas, e de pessoas que trabalham próximas a mim, e eu não sabia, que tinham questões com paternidade, com os filhos que não veem, com os pais que eles não tiveram. Há pessoas na rua me parando pra me contar histórias do filho que abandonou e quer voltar a ver. Enfim, eu acho que está sendo muito positivo. Propor coisas e ver essas coisas retornarem pra mim é o diálogo perfeito", acrescenta.

Vai sentir falta

"Dos meus colegas de trabalho, a gente criou uma família muito gostosa. Vou sentir saudade dos autores, eles são maravilhosos! A autora... os colaboradores, a gente troca muita ideia, se vê muito. Da direção dessa novela. Eu acho que a gente tem uma equipe técnica ímpar. Singular, até, e isso reflete diretamente no sucesso que a novela está tendo".

Fabrício Boliveira

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"E eu acho que eu vou ter saudade dessa relação direta com o público também. De propor uma coisa, sair na rua e vê as pessoas falando. De abrir o celular e estar bombando de gente me escrevendo sobre alguma coisa que apareceu no outro dia, que a gente pensou junto e falou: 'Gente, acho que o público vai pensar nisso", conclui.

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