Opinião

Remake não deu certo: O que Vale Tudo deveria ter aprendido com Pantanal e Renascer

Adaptações, elenco e mais: veja por que a atual novela das 21h está bem aquém dos últimos remakes do horário


Alanis Guillen em Pantanal; Bella Campos em Vale Tudo; e Juan Paiva em Renascer: atores em remakes exibidos pela Globo às 21h
Alanis Guillen em Pantanal; Bella Campos em Vale Tudo; e Juan Paiva em Renascer: atuações na atual novela das 9 ficam devendo - Fotos: Divulgação Globo/Montagem NT
Por Walter Felix

Publicado em 22/05/2025 às 04:44,
atualizado em 22/05/2025 às 10:43

A nova versão de Vale Tudo é um bom exemplo de como não se fazer um remake de novela. Com uma coleção de críticas desde a estreia, além da baixa audiência, a trama fica devendo em muito à trama original, clássico da TV que foi ao ar na Globo entre 1988 e 1989.

Mais do que isso, a releitura de Vale Tudo também está bem aquém da qualidade vista nos dois últimos remakes exibidos às 21h: Pantanal (2022) e Renascer (2024). Os envolvidos no atual cartaz do horário nobre têm muito a se inspirar nos dois títulos anteriores na faixa.

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Confira, a seguir, o que Vale Tudo deveria ter aprendido com Pantanal e Renascer:

Atualizações pertinentes

Renascer
Renascer mudou trama de personagem intersexo para abordar discussões pertinentes aos dias de hoje - Foto: Reprodução/Globo

Os últimos remakes também não escaparam das críticas. Uma das principais era ao fato de o autor das novas versões, Bruno Luperi, mudar pouco as tramas originais, ambas escritas pelo avô dele, Benedito Ruy Barbosa. Em Pantanal, principalmente, as atualizações eram restritas a questões tecnológicas e adequações do roteiro aos dias de hoje.

Já em Renascer, Luperi foi mais ousado nas adaptações. As principais modificações eram pertinentes, como a realocação de uma personagem intersexo, considerando as discussões recentes sobre o assunto, e o acréscimo de uma abordagem sobre a transexualidade por meio de Buba (Gabriela Medeiros), cuja relação com a família foi aprofundada.

Em Vale Tudo, Manuela Dias até teve algumas boas sacadas, como transformar Maria de Fátima (Bella Campos), antes aspirante a modelo, em influenciadora. A autora também deu um novo destino ao casal Cecília (Maeve Jinkings) e Laís (Lorena Lima): a primeira morria para uma abordagem sobre direitos de casais homoafetivos; agora, elas vão adotar uma criança.

Outras alterações, em contrapartida, desvirtuam a essência da obra. É o caso da família não tradicional, antes chefiada por dois irmãos, que agora é comandada por marido e mulher – Consuelo (Beliza Pombal) e Jarbas (Leandro Firmino). Uma cena gay envolvendo Franklin (Samuel Melo) também foi cortada logos nos primeiros capítulos.

Respeito aos personagens originais

Tanto Pantanal quanto Renascer respeitaram a essência dos personagens originais, sem descaracterizá-los. Em Vale Tudo, entretanto, houve mudanças sem qualquer justificativa, como o esvaziamento do mordomo Eugênio (Luís Salém), que não é mais cinéfilo nem deslumbrado como na primeira versão. Sem novas características, o personagem ressurge “apagado”.

Outras figuras centrais também estão diferentes. Odete Roitman (Débora Bloch), que vinha sendo mais defendida do que criticada nas redes sociais, só recentemente parece ter lembrado que é uma vilã. Já Marco Aurélio (Alexandre Nero), um empresário frio no original, ficará comovido e deseja ser pai novamente, nos próximos capítulos, ao ganhar uma sobrinha.

Temas bem abordados

As versões mais recentes de Pantanal e Renascer trataram de assuntos variados – como machismo, racismo, homotransfobia, disputa de terras e o avanço do agronegócio – de forma geralmente correta, sensível e efetiva. O texto de Bruno Luperi também sabia ser didático na medida certa.

Já Vale Tudo tem abordado de forma infeliz, com um texto raso, repleto de frases de efeito e sem qualquer sutileza, questões como alcoolismo, ética e desigualdade de gênero. A crítica social sobre honestidade, mote principal da novela dos anos 1980, também foi reduzida. Novos assuntos ganham espaço, como direito a pensão alimentícia e vício em jogos.

Alguns assuntos adicionados na releitura pouco agregam à história ou ao desenvolvimento dos personagens. Por isso, soam gratuitos, forçados, a exemplo do diabetes de Solange (Alice Wegmann). Vira e mexe, Afonso (Humberto Carrão) solta um discurso sobre a crise climática, assunto bastante deslocado do restante da trama.

Elenco bem escalado

Isabel Teixeira em Pantanal
Isabel Teixeira em Pantanal: boas atuações marcaram a novela - Foto: Divulgação/Globo

Muitos se destacaram no elenco de Pantanal, como Isabel Teixeira (Maria Bruaca), Murilo Benício (Tenório), Alanis Guillen (Juma), Juliana Paes (Maria Marruá) e outros. Já em Renascer, nomes como Juan Paiva (João Pedro), Edvana Carvalho (Inácia) e Sophie Charlotte (Eliana) também deram show. Havia pouco a se criticar no elenco das duas novelas.

O mesmo não se pode dizer de Vale Tudo. A começar por Bella Campos, ainda inexperiente para uma personagem tão complexa como Maria de Fátima, também são questionáveis os desempenhos de outros atores principais, como Cauã Reymond (César) e Paolla Oliveira (Heleninha).

Direção criativa e inspirada

Poucos elementos diferem tanto a atual novela das outras duas quanto a direção. Rogério Gomes e Gustavo Fernandez garantiram sequências perfeitas em Pantanal. Fernandez repetiu a dose em Renascer, especialmente na primeira fase, esmerada, bela e criativa. Várias cenas marcaram as novelas.

Já a equipe de Paulo Silvestrini deu a Vale Tudo um clima solar, de novela das sete. A trilha sonora causa estranhamento: momentos sérios ganharam sons incidentais divertidos. No último sábado (17), uma armação de Mária de Fátima e Odete foi embalada por uma música que remetia ao filme Missão Impossível.

O mal desempenho de alguns atores também pode ser creditado à equipe de direção, que não encontrou o tom certo para as cenas. Cenas emblemáticas da novela original, como uma briga de Fátima com Raquel (Taís Araujo) logo no início, sem dinamismo e ritmo como na primeira versão.

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Imagem da thumbnail do vídeo

A nova versão de Vale Tudo é escrita por Manuela Dias e tem direção artística de Paulo Silvestrini. O remake é baseado na novela exibida entre 1988 e 1989, criada por Gilberto Braga (1945-2021), Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004) e que teve direção de Dennis Carvalho e Ricardo Waddington.

O NaTelinha divulga todos os dias os resumos dos capítulos, detalhes dos personagens, entrevistas exclusivas com o elenco e spoilers da novela Vale Tudo. Confira!

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