Homem com H: Filme sobre Ney Matogrosso triunfa por atuação de Jesuíta Barbosa
Cinebiografia que chega nesta quinta-feira (1º) aos cinemas tem grande performance do protagonista, à altura de uma das maiores vozes da música brasileira

Publicado em 01/05/2025 às 05:27,
atualizado em 02/05/2025 às 12:28
Tão intensa quanto a trajetória e a personalidade de Ney Matogrosso é a atuação de Jesuíta Barbosa em Homem com H, filme que chega nesta quinta-feira (1º) aos cinemas. Dirigido por Esmir Filho, o longa-metragem conta com um verdadeiro show de atuação do protagonista, que entrega um desempenho à altura de uma das maiores vozes da música brasileira.
Homem com H começa com os conflitos com o pai militar durante a infância e juventude em Bela Vista, no Mato Grosso do Sul. A relação segue marcada pelo preconceito depois que o protagonista se muda para São Paulo, onde dá início à trajetória artística – primeiro com o grupo Secos e Molhados, depois em carreira solo, sempre rejeitando rótulos e desafiando convenções.
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Estão em cena os períodos mais importantes da história de Ney Matogrosso nos palcos e nos estúdios, entremeados por momentos de sua vida pessoal, como o namoro com Cazuza (1958-1990) e o relacionamento mais duradouro com Marco de Maria, que foi seu companheiro fixo por 13 anos.
A narrativa evidencia um traço principal na personalidade do artista: o de não aceitar qualquer tipo de proibição ou cerceamento de sua liberdade. Essa é uma característica que marca a relação conturbada com o pai, a carreira na música em meio à ditadura militar e também as relações amorosas. É um fator que dá certa unidade às várias fases de sua história.
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A opção do longa-metragem foi contar, em pouco mais de duas horas, uma trajetória que vai da infância, no fim dos anos 1940, até a maturidade, já na década de 1990. A intenção acaba por reduzir períodos que poderiam ser mais explorados, como o dia a dia no exército, a ascensão no Secos e Molhados e os conflitos com os outros integrantes da banda.
O filme dedica pouco mais de quatro cenas do momento em que Ney conhece Cazuza até o início da crise do namoro entre os dois. Esses atropelos são comuns às cinebiografias que tentam fazer retrospectivas de uma vida inteira, ao o que outras, focadas em um período específico da vida do biografado, costumam ter mais êxito no retrato traçado.
Jesuíta Barbosa brilha com caracterização perfeita e impressionante trabalho corporal

Homem com H triunfa pela atuação de Jesuíta Barbosa no papel principal. A escalação é um acerto como poucas vezes se vê em cinebiografias. O ator dispõe de perfeita caracterização, o que inclui, além de figurinos e maquiagens, a atenção a todos os detalhes físicos, como os dentes separados. Ele também emagreceu para conquistar um biotipo idêntico ao de Ney Matogrosso.
Nada disso teria tanto efeito se não fosse o excelente trabalho corporal de Jesuíta, captando com perfeição os trejeitos e o olhar do cantor. Ele dá show nas sequências de palco e também naquelas da intimidade do biografado, reproduzindo sua personalidade contestadora, inquieta e avessa a qualquer tipo de “caixinha” em que tentavam – e tentam – colocá-lo.
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Outro destaque do elenco, muito bem escalado, é o estreante Jullio Reis, que interpreta Cazuza. Há ainda bons trabalhos de Rômulo Braga (Antônio, pai de Ney), Hermila Guedes (Beita, a mãe) e Bruno Montaleone (Marco de Maria). A cantora Céu faz uma participação especial como a atriz e vedete Elvira Pagã (1920-2003).
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O excelente desempenho de Jesuíta garante aos números musicais um verdadeiro espetáculo. Além disso, algumas das cenas mais emocionantes são aquelas que exploram o repertório de Ney e Cazuza. Outro mérito da produção é o de trabalhar ao máximo essas belas canções, integradas à história que está sendo contada.
Há algum estranhamento nas cenas em que Jesuíta fala, com sua voz mais grave, e em seguida dubla o timbre agudo de Ney – outro problema recorrente em filmes sobre cantores. A opção do ator por suavizar, mas não “afinar” a voz afastou a possibilidade de que o protagonista soasse caricato, como uma imitação, mas a dissonância quebra um pouco a veracidade das cenas.
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A direção de Esmir Filho, que também assina o roteiro, tem momentos de grande inspiração. Uma das melhores cenas é aquela em que a cobra de estimação de Ney se aproxima, sorrateira, indicando um perigo à espreita, enquanto ele dorme ao lado de Marco, e a TV ligada noticia os primeiros casos de HIV/Aids no Brasil. O cantor perdeu o companheiro para a doença em 1993.
Homem com H alterna entre momentos convencionais, com deslizes típicos de filmes biográficos, e outros de grande criatividade e sensibilidade, em que também abandona qualquer caretice. Estes, mais pertinentes à personalidade do biografado, não por acaso garantem os melhores momentos da produção.
Assista ao trailer do filme Homem com H, em cartaz nos cinemas: