Opinião

O maior erro da Globo foi disponibilizar a versão original de Vale Tudo no Globoplay junto com remake

Público está acompanhando as duas versões simultaneamente só para comparar


Logo Vale Tudo em fotomontagem
Logo de Vale Tudo em 1988 e 2025 - Montagem/NaTelinha
Por Taty Bruzzi

Publicado em 19/05/2025 às 06:00,
atualizado em 19/05/2025 às 09:53

Quando anunciaram o remake de Vale Tudo muita gente recorreu ao Globoplay para assistir à versão lançada em 1988. Enquanto parte desse público queria rever a novela que tanto sucesso fez naquela década, era a chance para outros conhecerem a obra de Gilberto Braga.

Uma geração cada vez mais midiática e multifacetada, que não vê sessão da tarde ou Vale a Pena Ver de Novo, que dirá o Viva no canal a cabo. Uma galerinha que já nasceu no streaming, com um olho na tela do celular e o outro no feed de uma rede social qualquer.

Hoje, com quase dois meses no ar, a releitura do folhetim escrita por Manuela Dias ainda não decolou e como na TV o ibope dita o sucesso de uma produção o resultado está longe de ser o esperado.

O maior erro da Globo foi disponibilizar a versão original de Vale Tudo no Globoplay junto com remake

Quem faz remake não gosta dessa palavra, talvez porque ela já traga o peso da comparação. Por isso, há muito tempo que remakes foram batizados de releituras e se pararmos para pensar faz mais sentido a partir do momento que você busca contar uma história do ado nos dias atuais.

É por isso que na época do seu lançamento o elenco afirmou que assistiu pouco ou quase nada da novela original para não se prender ao trabalho dos veteranos, dando, assim, a sua própria interpretação.

Alguns ainda tiveram a iniciativa, ou sensibilidade, de pedir conselho, licença, bênção, chame do que quiser, aos atores da outra versão. Confesso que eu tento me colocar nesse lugar e só consigo imaginar a cobrança que deve ser.

O maior erro da Globo foi disponibilizar a versão original de Vale Tudo no Globoplay junto com remake

Para quem escreve, então, é um trabalho ainda mais complexo. Porque são quase 40 anos de uma produção atemporal, mas que precisa se adaptar para se encaixar nos anos 2000.

Não é só a moeda que mudou, mas a moda, o linguajar, o mercado de trabalho, as relações humanas. Quem hoje quer ser modelo e ar horas de salto, com um bastão nas costas, ter um distúrbio alimentar, morar longe da família quando se pode ganhar mais fazendo publi com o celular no próprio quarto?

Rejeição à Vale Tudo é mais por questões políticas do qualquer outra coisa

O maior erro da Globo foi disponibilizar a versão original de Vale Tudo no Globoplay junto com remake

Vale Tudo foi uma novela politizada nos anos de 1980 e, consequentemente, polemizada. A começar pela redemocratização do Brasil na época, ando pelos temas debatidos como ética, honestidade, corrupção e ambição.

Na versão de 2025 isso não mudou. As polarizações e questões políticas continuam e, talvez, ainda mais inflambadas. Na época em que o folhetim original foi ao ar já existia uma disputa entre a direita e a esquerda. Imagina agora com o extremo em ambos os lados.

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Se antes o apelido da TV Globo era platinada, hoje muito se fala em Globolixo. Com o termo virando meme coube à emissora surfar nessa onda e transformar o "Isso a Globo não mostra" em tema de quadro no Fantástico, por exemplo.

Mas a verdade é que há muito tempo as novelas globais vêm perdendo público, não pela falta de qualidade em suas produções, que continuam impecáveis, mas por ideologias políticas.

As mesmas pessoas que torcem o nariz para casais homoafetivos na televisão não estranham a relação de um comendador com uma ninfeta, ou de uma tia com um sobrinho e até mesmo a de um coronel e suas rolinhas. Mistério!

Tomando como exemplo a cena em que o filho do personagem Ivan invade o computador da escola para conseguir as questões de uma prova, quando questionado pelo pai, o menino diz ter feito o mesmo que ele com os arquivos da TCA, com a diferença de que o estudante foi pego.

Foi certo o que ele fez? Não! Assim como os meios escolhidos pelo pra se destacar na empresa também não. E é sobre isso! Ou deveria ser, porque depois desta invertida do garoto ele "caiu em si" sobre estar sendo um mau exemplo para o herdeiro.

O maior erro da Globo foi disponibilizar a versão original de Vale Tudo no Globoplay junto com remake

Mas teve internauta chamando a criança de "lacrezinho" em tom de deboche quando deveria tomar como exemplo, levar pra vida ou ate mesmo jogar para o universo esse diálogo que, diga-se de agem, foi sensacional.

Aliás, tem se falado muito sobre as mudanças no texto da novela de 1988 para a de 2025. Sinceramente, eu ainda tenho um pouco do folhetim original na minha memória e conforme assisto a de agora consigo projetar as cenas na minha cabeça sem problemas.

Odete Roitman, que vem sendo exgeradamente criticada, continua ácida nas suas falas e didática também. Novela não é só entretenimento, mas serviço. Eu estranhei quando ouvi a personagem dizer alcoolista? Sim!

Mas fui pesquisar para entender melhor a diferença entre os termos usados e descobri que alcóolatra quer dizer adoração pelo álcool, enquanto que alcoolista é a dependência ao álcool. É melhor uma mulher vivida e sofisticada feito a milionária saber isso ou usar termos perjorativos?

O remake de Vale Tudo é perfeito? Não! O primeiro erro eu vi logo nas primeiras cenas da Solange com o Afonso, quando ela chamou o crush de "princeso" em um bilhetinho.

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Achei uo! A expressão foi popularizada em Mania de Você, que havia acabado de sair do ar e estava muito fresca no imaginário das pessoas. Não sei se a mensagem chegou até Manuela Dias, mas depois das críticas na web a personagem não falou mais.

Ah, foi um micão a cena da Odete Roitman com os óculos de inteligência virtual. Eu não faria se fosse a autora, mas vai que virou fetiche nos anos 2000. Agora qual o pecado maior: Eugênio não curtir cinema clássico ou uma família ainda ser servida por um mordomo em 2025?

O maior erro da Globo foi disponibilizar a versão original de Vale Tudo no Globoplay junto com remake

A novela tem falhas que ainda podem ser corrigidas. Alguns núcleos esquecidos ou com personagens com pouco espaço de tela, por exemplo. Além da Maria de Fátima que parece estar em uma montanha russa, sofrendo com os altos e baixos na entonação de Bella Campos.

É quase inaceitável uma Raquel tão ingênua, mas infelizmente a personagem de 1988 era igualzinha e já dá raiva naquela época, imagina agora com aquela tatoo com o nome da filha no peito? Assim como o César que continua bonitinho, mas ordinário, e o Afonso tóxico.

Por outro lado, a interpretação de Taís Araujo está tão visceral. E quando se junta com Belize Pombal, então. Assim como a parceria da Aldeíde com a Consuelo. E deixem Paolla [Oliveira] em paz, Heleninha já tem problemas demais.

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Enfim, pelo que eu vejo, leio e escuto das pessoas o problema maior de Vale Tudo hoje não é a lacração, a adequação da linguagem ou adaptação da trama aos novos tempos.

Errada foi a Globo em disponibilizar a novela original no streaming simultaneamente ao remake na TV aberta, porque é fato que o publico está assistindo as duas versões só para compará-las e falar mal depois. É que nem ler um livro antes e assistir depois sua adaptação para as telas. Ou seja, um caminho sem volta!

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