Série polêmica exibida na Globo envolveu muçulmanos, Itamaraty e até Roberto Marinho
Por conta de O Machão, carta escrita pelo presidente da emissora foi lida na íntegra durante Jornal da Globo

Publicado em 26/04/2025 às 09:55
A exibição na Globo da minissérie O Machão, em 1980, rendeu uma grande polêmica que envolveu muçulmanos, o Itamaraty e até o fundador e então presidente da emissora, Roberto Marinho (1904-2003). O canal completa 60 anos de fundação neste sábado (26), em que conta com programação especial.
Embaixadores árabes, de países como Síria, Arábia Saudita, Irã e Paquistão, protestaram contra O Machão, série em 4 episódios que foi ao ar às sextas-feiras há 45 anos. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, também conhecido como Itamaraty, transmitiu então um comunicado à Globo sobre o assunto.
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Segundo a manifestação dos embaixadores, a atração de TV teria conteúdo ofensivo ao islamismo e sobretudo à figura do profeta Maomé. Instaurada a polêmica, coube a Roberto Marinho enviar um telex para o ministro Saraiva Guerreiro (1918-2011), responsável pelo Itamaraty. O texto dizia:
“Com referência à série O Machão, permito-me transmitir a vossa excelência esclarecimentos que considero úteis à sua orientação. Em quatro episódios, o filme é a versão cinematográfica do livro The Pirate, da autoria de Harold Robbins, que está traduzido e publicado no Brasil já em quinta edição.”
Na época, ainda havia a Censura Federal – que só foi extinta em 1988 –, e a ditadura militar, em curso desde 1964, só chegaria ao fim em 1985. Por isso, a carta continua: “Submetido à censura, como é de lei, o filme recebeu o certificado que autoriza a exibição no horário de 21 horas”.
“Trata-se, evidentemente, de obra de ficção. A história, com objetivo de entretenimento, não tem qualquer conexão com a realidade nem visa qualquer fim político”, disse Marinho. Ele enfatizou que a série já havia ado nos Estados Unidos e em vários países da Europa, Ásia e América Latina.

“Antes de chegar ao Brasil, a série foi exibida nos Estados Unidos pela cadeia de televisão CBS, já tendo sido mostrada na Alemanha, na Inglaterra, na Itália, na Áustria, na Holanda e na Suíça. Foi também exibida no Japão, na Austrália e no Canadá. O mesmo se pode dizer de todos os países da América Latina, inclusive o México e a Venezuela.”
A carta, lida na íntegra durante o Jornal da Globo, termina da seguinte maneira: “Certo de ter contribuído para o seu esclarecimento, aproveito a oportunidade para reiterar os protestos de minha estima e subscrevo-me cordialmente. Assinado, Roberto Marinho, presidente e diretor-geral da Rede Globo”.
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O Machão, que originalmente se chama The Pirate, foi um filme feito para a TV norte-americana em 1978, dividido pela Globo em quatro capítulos, transmitidos ao longo de fevereiro na faixa Sexta Super. O livro havia sido proibido pela censura brasileira em 1976, mas acabou liberado em 1979.
Na história, o israelense (vivido pelo ator italiano Franco Nero), criado por um árabe rico e poderoso, é colocado no comando das vastas fortunas do petróleo de seu país. Ele entra em conflito com um grupo terrorista fanático, liderado por sua filha. Para os críticos, a história tratava a religião de forma desrespeitosa.